Centro Cultural Bamiyan

Concurso Internacional de Arquitetura. 2014. Entre os 43 selecionados de 1.170 projetos.

Não se trata apenas de um edifício: o que se propõe é uma plataforma, na qual os espaços externos e internos se integram para a celebração do patrimônio mundial do Vale do Bamiyan. A cobertura é também o chão. A plataforma foi projetada ao mesmo tempo como palco e observatório, onde as pessoas poderão circular, se expressar e observar a beleza e riqueza da cultura de Bamiyan.

O projeto é proposto não como uma edificação autônoma, nem como um objeto que concorre com os elementos naturais e arqueológicos. Ao contrário, o que se propõe é uma plataforma de celebração desses elementos. O Vale do Bamiyan é o principal elemento a ser exposto, exibido, celebrado. Dessa forma, a arquitetura é proposta como um suporte físico sutil, em reverência à riqueza cultural de Bamiyan. Nessa perspectiva, o Centro Cultural de Bamiyan é definido como um gesto arquitetônico simples: uma linha horizontal, uma extensão da topografia natural.

O Centro será uma praça cultural para a reunião da comunidade e sua expressão cultural. Os espaços comunitários não estarão limitados aos 2.200m2 de área construída. Os espaços abertos estão integrados aos espaços fechados, convertendo-ser em um centro de 26.000 m2, como um parque aberto à comunidade. A fim de não desviar a atenção da paisagem, que se apresenta como principal elemento, a construção e os detalhes técnicos foram concebidos da maneira mais discreta possível. O Centro será construído com materiais e tecnologias locais, em uma combinação de métodos construtivos tradicionais a tecnologias e soluções contemporâneas de projeto.

Programa

A distribuição do programa é definida por três elementos complementares: topografia, pátio e a perspectiva do Vale do Bamiyan. Os espaços de Exposição, Biblioteca e Centro de Pesquisa foram locados estrategicamente na porção noroeste da plataforma, voltados para o penhasco do Budha (Budha Cliff) e o vale circundante. Os espaços coletivos e interativos, como salas de aula, auditório/teatro, casa de chá, loja, oficina e sala de conferências são distribuídos em torno de um pátio central.

Teatro a céu aberto

O teatro/auditório, além de abrigar 200 pessoas em seu espaço interno, pode ser aberto para a arena ao ar livre, com capacidade para cerca de 500 pessoas, ampliando a capacidade e promovendo formas criativas e diversas de uso e apropriação desse equipamento cultural.

Tecnologia, Construção e Materialidade

Concreto armado é o principal material para o Centro Cultural, combinado a paredes e pisos em tijolos e pedras, em uma adaptação da tradição afegã às demandas e técnicas contemporâneas, a fim de se obter uma solução resiliente. As cores e texturas são propostas como referência à paisagem de Bamiyan. Na transição entre os espaços fechados e abertos são propostas esquadrias em vidro duplo laminado, que combinam o isolamento térmico necessário à luminosidade natural necessária, além da desejada integração visual à paisagem circundante. A cobertura e os terraços são pavimentados com piso elevado drenante, que contribuem para a drenagem, coleta e reaproveitamento de água, além do isolamento térmico.

Soluções ambientais e eficiência energética

Os espaços foram projetados de maneira a maximizar a luz natural e o isolamento térmico, dispensando a necessidade de luz artificial durante boa parte do dia. Os principais materiais utilizados na construção (concreto, pedra e tijolo) podem ser obtidos facilmente no local e sua aplicação pode ser adaptada às demandas do projeto e saberes locais. Para a iluminação artificial, o fornecimento de energia e o aquecimento de água foram previstos painéis solares (fotovoltaicos e de aquecimento), instalados sobre a cobertura do auditório. Para o sistema de aquecimento propõe-se a utilização de fontes geotérmicas, considerando as características geográficas e geológicas da região de Bamiyan (fontes termais foram identificadas na região). A água coletada da cobertura e dos espelhos d’água que compõem o paisagismo será tratada e reutilizada. Os espelhos d’água dos níveis superiores serão utilizados como reservatórios abertos, tanto para o Centro quanto para o uso da comunidade.

Paisagismo e Agricultura Comunitária

A pavimentação permeável e drenante dos terraços e coberturas, os espelhos d’água e as áreas verdes cobertas por plantios de espécies da agricultura local (batata e trigo) são os principais elementos que integram o projeto de paisagismo do Centro Cultural de Bamiyan. Os terraços-jardins com hortas comunitárias são propostos não apenas como elementos de composição visual no paisagismo, mas como fontes de desenvolvimento e educação para a comunidade, por meio da reprodução da cultura agrícola de Bamiyan em micro-escala.

Acesso e circulação

O Centro Cultural de Bamiyan foi concebido para privilegiar o acesso e a circulação de pedestres. As estratégias de projeto, em que a cobertura é também o chão, permite a integração da edificação à topografia e ao entorno, em constante reverência ao Vale de Bamiyan e à comunidade. Os principais acessos de pedestres ao Centro são definidos por dois eixos que se complementam: o primeiro, mais alto, a partir da via Gravel (nível 2555m), na porção sudeste do terreno (onde está situado o estacionamento e acesso de veículos). O segundo eixo, no nível inferior, a partir da porção nordeste do terreno, nas proximidades da via Chawni (nível 2540m), próxima ao centro da vila.

Ampliação

No caso de necessidade de ampliação, não serão necessários volumetrias visíveis no terreno. A ampliação poderá ocorrer no mesmo nível do Centro existente, em área reservada para esta finalidade, com vista para o Vale do Bamiyan e sua cobertura estará no mesmo nível do terraço existente. O objetivo é minimizar o impacto visual de eventuais ampliações.


Ficha Técnica
Concurso Internacional, promovido pela UNESCO em conjunto com o Ministério de Educação e Cultura do Afeganistão, em 2014. Projeto classificado entre os 43 melhores, de 1.170 participantes.
Arquitetura: MGSR – Macedo, Gomes, Sobreira & Ribeiro
Autor: Fabiano Sobreira
Colaboradores: Paulo Victor Borges e Rafaella Vieira