
Centro de Aprendizado Kurandza – Chivonguene – Moçambique
Menção Honrosa – Concurso Internacional – 2022







“Somos nós a noite e a madrugada num só astro. Somos nós que semeamos a flor e o vento que transporta a nuvem negra que fertiliza a terra. Somos a curva do céu e a curva da terra no sim do horizonte. Somos o centro à volta do qual todas as curvas do universo se curvam.“
(…)
“… caminharemos na marcha de todas as mulheres desprotegidas pela sorte, multiplicaremos a força dos nossos braços e seremos heroínas tombando na batalha do pão de cada dia. A cantar e a dançar, construiremos escolas com alicerces de pedra, onde aprenderemos a escrever e a ler as linhas do nosso destino. Atravessaremos o mar com a nau dos nossos olhos porque saberemos navegar até ao além-mar e levaremos a mensagem de solidariedade às mulheres dos quatro cantos do mundo.”
(Paulina Chiziane, Niketche.)
Trata-se de projeto classificado como Menção Honrosa no Concurso Internacional para o Centro de Aprendizado Kurandza, em Chivonguene, Moçambique.
O Centro de Aprendizado Kurandza é composto por um conjunto de pavilhões sombreados e flexíveis, implantados sob as sombras das árvores que existem no local, em especial o Canhoeiro. A disposição espacial facilita a integração com a natureza, a construção em etapas, as adaptações futuras e a redução dos custos de execução.
A ideia é integrar os espaços construídos ao ambiente natural e ao mesmo tempo criar uma dinâmica entre os edifícios e a paisagem. A fluidez entre os espaços internos e externos é enfatizada pela alternância entre pátios e pavilhões.
A capulana é um símbolo da cultura Moçambicana. As capulanas apresentam uma importante variedade de texturas e cores. No projeto, contribuem para criar um ambiente lúdico e cheio de vida, repleto de memória, ancestralidade e de estórias a serem contadas.
O uso do tecido é também uma referência à história da ONG responsável pelo Centro Kurandza, que surgiu a partir de uma cooperativa de costureiras e se transformou em um centro que dá suporte a mais de 200 meninas no processo de afirmação, educação e construção do futuro.
As técnicas construtivas utilizadas são simples, baseadas na utilização de materiais locais: fundações em concreto e pedra; paredes de tijolos feitos de argila; coberturas em madeira (executadas com peças rústicas, com seções reduzidas) complementadas por forros feitos de madeira e de capulanas; telhas metálicas com isolamento térmico e iluminação zenital.
O ar circula livremente, devido às soluções de aberturas nas paredes e esquadrias. A cobertura dos pavilhões é frondosa, a fim de proteger do sol e da chuva as paredes e esquadrias, além de proteger os espaços externos de convivência.
As coberturas contam com elementos que trazem iluminação natural para os espaços internos – filtrada pelos forros de madeira e capulanas – e que contribuem para a retirada do quente dos ambientes. As soluções de cobertura também facilitam a coleta de águas pluviais e a implantação de sistemas de energia solar.
A simplicidade das técnicas construtivas, o uso de materiais locais, as estratégias de modulação e a participação da comunidade na construção permitem a redução dos custos de execução.
Os espaços do Centro de Aprendizado Kurandza são idealizados como árvores: sombreados, convidativos, permeáveis à luz, robustos e integrados à natureza. Não se trata simplesmente de criar espaços de aprendizado, mas também de promover ambientes lúdicos, sombreados, criativos, seguros; espaços comunitários onde as vozes das meninas e mulheres possam ser ouvidas. Espaços que permitam que as meninas possam crescer, aprender, brincar e sonhar. No Centro de Aprendizado Kurandza, as meninas de Chivonguene serão protagonistas de sua própria história.
Arquitetura: GSR
Autor: Fabiano José Arcadio Sobreira
Colaboradores: Luana Alves, Lucas Sousa e Mariana Sobreira