Pavilhão do Brasil na Expo Dubai 2020
Segundo lugar em concurso público nacional de arquitetura, 2018.
resiliência
pausa para reflexão
“…o brasil é máquina de gastar gente. gastou seis milhões de índios e o equivalente de negros. para eles? não! Para adoçar a boca do europeu com açúcar, para enriquecer uns poucos. o povo foi gasto como carvão neste país bruto“. – darcy ribeiro
em um contexto global de esgotamento dos recursos, destruição, individualismo, ritmo acelerado e intolerância, o que pode o brasil expor ao mundo ?
diversidade e resiliência
diversidade natural, social e cultural são as matrizes e as maiores riquezas do país.
no entanto, como no contexto global, também no país a diversidade está ameaçada
mais do que um momento de celebração, o que se propõe para a arquitetura e a expografia do pavilhão é uma pausa para reflexão
pausa para reflexão
condição necessária para a tomada de consciência e a construção de um percurso de resiliência e transformação
o ambiente da expo dubai 2020, como analogia e reflexo do mundo contemporâneo, será marcado pelo excesso de luzes, ruídos, efeitos visuais, malabarismos arquitetônicos e disputas de mercado.
o pavilhão do Brasil oferece uma pausa e atmosferas de imersão
duplo espiral
um percurso, dois ciclos
o duplo espiral é proposto como síntese espacial da expografia, cujo percurso expositivo se constrói em dois ciclos:
silêncio e sombra: pausa, reflexão e imersão
som e luz: consciência, resiliência e ação
o percurso expográfico propõe imersões por diversas expressões culturais, mediadas pelas atmosferas da arquitetura: música, fotografia, artes plásticas e visuais, antropologia, geografia, pedagogia e literatura.
atmosferas e materiais
a materialidade do pavilhão expressa no exterior e em seus espaços internos a pausa reflexiva e a imersão propostas enquanto experiência sensorial.
em oposição à multiplicidade de cores e luzes do contexto circundante, o pavilhão se expressa para o exterior por meio de materiais sóbrios, que procuram acalmar os sentidos; um convite à introspecção.
os materiais, suas cores e texturas, assim como a transição entre ausência e presença da luz, são definidos em função da experiência sensorial que se propõe em cada estágio do percurso.
sombra, revestimentos escuros e madeira em vários estágios de carbonização são os materiais predominantes no percurso do primeiro ciclo.
luz, revestimentos claros e madeira natural definem o segundo ciclo.
entre os dois ciclos, a presença da água marca a transição
a madeira carbonizada
é utilizada com dupla função: técnica e simbólica
função técnica: trata-se de material sustentável e resistente, em que a carbonização da superfície aumenta sua resistência e durabilidade
função simbólica: representa ao mesmo tempo destruição e resiliência. a ameaça à diversidade social, cultural e ambiental. a textura e a cor, ao mesmo tempo, ressaltam o sentido de sobriedade e resiliência
acústica (som e silêncio)
em todo o percurso as superfícies são tratadas de forma a criar atmosferas imersivas.
os materiais utilizados (madeira, como elemento predominante, em várias combinações de textura, escala e cor) buscam reduzir a reflexão do som e aumentar a absorção.
a intenção é reduzir o ruído incidental, propiciar o silêncio onde necessário e ressaltar a musicalidade que acompanha cada estágio do percurso expográfico.
expografia
pausa
de volta às origens. encontro com as raízes.
cultura indígena e negra.
escultura . krajcberg
fotografia . claudia andujar
música . naná vasconcelos
pensamento . darcy ribeiro
reflexão
diversidade ameaçada. destruição. fome.
fotografia . sebastião salgado
música . yamandu costa
pensamento . josué de castro
“a fome é uma realidade demasiado gritante e extensa, para ser tapada com uma peneira aos olhos do mundo” – josué de castro
“o caminho da paz e da felicidade humana está numa economia de abundância, na luta contra a fome e a miséria e na vitória integral contra o medo tanto da fome como da guerra. medo que ameaça paralisar a capacidade criadora do homem e, portanto, provocar o desmoronamento de toda a civilização” – josué de castro
imersão
silêncio . imersão. uma pausa para reflexão
luz e sombra . água
consciência
cidades e cidadania.
do indivíduo solitário ao cidadão solidário
arte urbana . os gêmeos e kobra
animação . o menino e o mundo
música . criolo, emicida, naná vasconcelos
pensamento . milton santos
“as migrações agridem o indivíduo, roubando-lhe parte do ser, obrigando-o a uma nova e dura adaptação em seu novo lugar” – milton santos
“é fundamental ultrapassar a reconstrução solitária do indivíduo e transformá-la em ação social solidária. a individualidade somente se realiza no grupo” – milton santos
resiliência
a diversidade é resiliente. brota do fogo e das cinzas.
fotografia . diversas – queimadas, cultura popular, quilombolas
escultura . krajcberg
música . cultura popular
ação
educação para um futuro sustentável
fotografia . diversas . crianças e educação
animação . o menino e o mundo
música . cultura popular
pensamento . paulo freire
“se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda” – paulo freire
tecnologia construtiva
madeira
a madeira de reflorestamento e a madeira natural certificada são os principais elementos utilizados no projeto: estrutura, vedações, piso e mobiliário.
a utilização de componentes em madeira permite uma construção seca, rápida e sem resíduos, de de fácil montagem e desmontagem.
o objetivo é também apresentar o Brasil como potencial produtor e exportador de madeira e tecnologias construtivas sustentáveis, em equilíbrio com as iniciativas de preservação ambiental.
o incentivo ao uso das madeiras de reflorestamento e certificadas na construção civil inibe a utilização de madeira ilegal e reduz as iniciativas de desmatamento.
montagem e desmontagem
o dimensionamento e a modulação dos elementos construtivos em madeira permite a montagem e desmontagem do pavilhão de maneira racional e sustentável, com o mínimo de resíduos e máximo de reaproveitamento.
estruturas
por se tratar de estrutura horizontal e leve, o pavilhão será assentado em uma fundação rasa em concreto com agregado leve, de fácil execução, sem necessidade de escavações profundas.
os principais elementos estruturais têm pequenos vãos e são compostos a partir de componentes modulados, coerentes com a espacialidade proposta. onde necessário, devido a vãos maiores ou cargas mais concentradas, propõe-se a utilização de componentes em madeira laminada.
eficiência energética
inércia térmica
a característica imersiva do pavilhão, com pátios internos e pouca abertura para o exterior é compatível com o clima local. diminui-se a oscilação de temperatura, o que permite maior conforto ambiental e eficiência energética nos sistemas de climatização.
no clima seco de Dubai os espelhos d´água, associados ao pátio, ajudam a reduzir o calor e criar uma atmosfera mais confortável e acolhedora.
energia fotovoltaica
na cobertura do bloco de apoio do pavilhão serão instaladas placas fotovoltaicas que permitirão a autonomia parcial do edifício.
o que fazer depois ?
um dos principais questionamentos sobre as estruturas temporárias dos pavilhões em exposições universais é: o que fazer depois ?
de acordo com o refugee project, cerca de 69 milhões de pessoas no planeta vivem em condição de refugiados, seja por guerra, perseguição ou violência.
propõe-se que o pavilhão de exposições do brasil, ao final da expo, se converta em pavilhões humanitários, em atendimento a refugiados e comunidades em situação de opressão ou abandono, em regiões e países no entorno dos emirados árabes, tais como afeganistão, etiópia, iraque, myanmar, palestina, síria, sudão, somália, entre outros.
1 pavilhão de exposições = 100 módulos de pavilhões humanitários
propõe-se um módulo de 36 metros quadrados (12m x 3m) cuja combinação permite configurar pavilhões humanitários com funções e tipologias diversas, de acordo com a necessidade: postos de saúde e de assistência social, escolas, bibliotecas, refeitórios, etc.
Ficha Técnica
Autores (Arquitetura e Expografia): Fabiano José Arcadio Sobreira e Paulo Victor Borges Ribeiro
Colaboradores: Filipe de Abreu Bresciani, Luana Alves, Paulo Henrique de Oliveira e Gabriela Figueiredo.
Consultores em Dubai: DesignMark Group